Bonito: O Abismo Anhumas

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Este foi até agora o passeio mais espetacular que eu e a Kel fizemos. 

Porque gostamos de ecoturismo, e estávamos no lugar certo. Porque conhecer o Abismo Anhumas exige algo mais do que simplemente ter vontade de agendar um passeio: exige vencer seus medos, seu cansaço físico, aprender a confiar nos instrutores e seus equipamentos. E no final porque o passeio em si mescla harmoniosamente homem e natureza num ambiente inóspito, com cenários deslumbrantes - uma aventura inesquecível!

Acordamos antes de o galo cantar e antes dos primeiros raios de sol surgirem. Com café da manhã improvisado, seguimos por uma estrada de terra batida por mais de 40 minutos em direção à fazenda que ocupa ao mesmo tempo 3 importantes atrações de Bonito: As Grutas de São Miguel, a Gruta do Lago Azul e o Abismo, nosso maior desejo de consumo! Quando o transfer nos deixou no fim da trilha, a equipe de monitores locais já nos esperavam com todo o equipamento montado para não perdermos tempo. 


Na noite anterior, eles foram os responsáveis por nos treinar na subida e descida de rapel negativa (sem apoio de pés) na sede da agência, e somente mediante a este teste/treinamento é que a pessoa é habilitada para fazer o passeio. Na véspera também experimentamos e reservamos as roupas de neoprene que usaríamos no interior do Abismo.


A equipe liderada pelo instrutor Márcio, que completa 10 anos de exploração de cavernas, foi muito atenciosa e profissional conosco e com as outras pessoas que completava o grupo de 8 pessoas que desceram o Abismo naquele dia. E com muita irreverência nos ajudavam a quebrar alguma insegurança que aparecia, passando sempre credibilidade. E isso falando de uma altura de 72 metros (imagine um prédio com esta envergadura!) é muito importante, porque por mais preparado que você acha que está, se não é profissional no rapel sempre tem uma hora que bate o cansaço ou medo da altura. Mas o apoio dos instrutores te motiva sempre a continuar confiante.    


A descida do rapel foi rápida. Logo estávamos no deck montado sobre as águas do lago do interior do abismo. A parte submersa do Abismo Anhumas tem a dimensão de um estádio de futebol, e uma profundidade de mais de 80 metros, onde se pode encontrar o maior cone submerso do mundo! A parte superior dos cones maiores podem ser vistos do deck, e também podem ser explorados por quem faz o mergulho acompanhado por um instrutor. Na verdade, os cones são formados pelas partículas de calcário que estão em queda constante na caverna, e quase são imperceptíveis a olho nu. No nosso caso, íamos conhecer estas formações gigantescas através de flutuação, então tratamos de vestir nossas roupas de neoprene (a água tem 19 graus e a temperatura na caverna era de 21 graus, mas a sensação térmica era mais baixa!), e em seguida fizemos um lanchinho improvisado antes de partir para a segunda atividade. A agência tem um ótimo trabalho de preservação do local, pois mantém um pequeno banheiro químico que é trocado a cada expedição, lixeiras, e cuidado para não interferir no ecossistema do local. Mesmo que as únicas formas de vidas do lago sejam pequenos peixinhos que se alimentam de restos de frutas e sementes que caem e uma espécie rara de camarão albino sensível à luz que vive nas profundezas do abismo.

Lá fomos nós com snorkel e lanternas em mãos fazer nossa demorada flutuação por cada canto escuro do lago. O feixe de luz que entra pelo buraco do Abismo é suficiente para iluminar parte da água turqueza, conferindo à paisagem subterrânea um lindo degradê de tonalidades azuis até seu fundo sombrio. Circulando pela caverna e mergulhados naquela àgua misteriosa e ancestral (ninguém sabe até hoje como lago se enche, pois não faz parte do lençol subterrâneo conhecido e muito menos sofre influência de chuvas), é como se estivéssemos em contato com distantes eras geológicas do nosso País, com um elo perdido que o tempo foi escupindo em lindas e espetaculares formas. Porque espetacular é a melhor palavra a definir as belezas do Abismo Anhumas!

Nossa próxima atividade foi o passeio pelo bote, onde o monitor ia detalhadamente explicando as formações das estalactites, a história da descoberta do Abismo, os fósseis de animais encontrados, e muitas outras curiosidades. 

Por fim, só restava a atividade mais puxada de todas: a hora da partida. Difícil porque queremos ficar mais um pouco (as horas voaram lá embaixo!), e difícil porque teríamos que subir os 72 metros com muita coragem e fôlego. Se para descer foram 5 minutos, aqui gastamos de 45 a 50 minutos para completar o circuito. Mas as paradas para descansar se mostraram o último presente de Anhumas - as belas formações rochosas no teto e nas paredes podíamos agora deslumbrar com toda calma do mundo, frente a frente!



5 horas completas de uma aventura inesquecível que vamos guardar por muito tempo em nossas lembranças. Eu desci apreensivo, confesso, mas motivado por mais esta superação. Voltei uma pessoa diferente, mais confiante e ansioso por novas experiências que a natureza pode nos oferecer!    

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